“Antes de aceitar esse emprego preciso falar com minha esposa”. Foi a frase que ouvi quando fiz uma proposta de contratar um executivo. Confesso que me surpreendi. Seria factível que alguém tivesse que consultar um familiar antes de responder a uma proposta tão atrativa? Me soou estranho que aquele homem, tão independente, precisasse de alguém para decidir algo em sua vida. Eu era um líder muito jovem, e não sabia da importância da família na tomada de decisões de carreira.

Ao longo de minha trajetória pude ver que situações como essa eram comuns. E percebi que a carreira não é uma escolha única e pessoal. Ela interfere na vida da família como um todo. A carreira faz com que pais e mães fiquem mais tempo (ou menos) com seus filhos. Atrapalha ou ajuda os planos das férias, o sonho de construir ou alugar uma casa. Escolhas de carreira do marido ou da esposa faz com que as horas de sono sejam diferentes.

Quantas vezes ouvi amigos dizerem que chegavam do trabalho quando a esposa e os filhos estavam acordando! Diziam que estavam fazendo esse esforço de maneira consciente, para poderem alcançar um objetivo juntos. O trabalho nas madrugadas pagava melhor, mas a família não se via durante o dia. Estavam sofrendo juntos para poder viver melhor depois. Abriam mão da felicidade momentânea por um futuro melhor.

Em uma outra entrevista de emprego fui surpreendido por um candidato, que na fase final do processo seletivo, levou a esposa. “Alberto, trouxe minha esposa para essa conversa. Afinal, nossa vida pode mudar completamente”, disse ele. Achei o máximo! Nem preciso dizer que o contratei.

Mas já vi o contrário acontecer. Uma vez tive que ouvir de uma funcionária que ela estava pedindo demissão pois seu marido não gostava que ela trabalhasse com tantos homens no mesmo ambiente. Ela chorou muito no dia de se despedir. Dessa vez, o cônjuge interferia na carreira para pior.

O ciúme falou mais alto e a tristeza tomou o lugar da esperança.

Alias, ouvi de diversos amigos e amigas que suas esposas ou maridos havia lhes “proibido” de irem às festas de final de ano da empresa. A desconfiança de que seria uma balburdia interferia na celebração.

Casos em que cônjuges interferem, para o bem e para o mal, são mais comuns do que se imagina por aí.

Todos os dias têm alguém encorajado a sair do emprego e montar um negócio familiar, motivado(a) pelo companheiro(a). Tem alguém deitado ao seu lado, nas madrugadas, conversando, dizendo para parar de engolir sapo do chefe mau caráter e procurar outro emprego. Tem sempre alguém te estimulando a se destacar de alguma forma, a superar as fofocas, a pedir aumento, a pedir demissão.

Cônjuges são nossos melhores e mais sinceros coachs. E não cobram nada pelas consultas.

Mas se esse coach te puxar para baixo, ao invés de te empurrar para cima, avalie bem se você escolheu a pessoa certa para ser seu “sócio” na vida. Antes de pensar na carreira, pense se é um(a) companheiro(a) de verdade. Procure colocar na balança. Se você for mais feliz no trabalho do que na vida pessoal, está na hora de demitir o cônjuge.


Alberto Roitman é uma alma livre. Autor dos livros: Você é o que você entrega! e A Última Chance! É escritor, consultor, e pesquisa sobre temas comportamentais no ambiente de trabalho.


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